sábado, 17 de outubro de 2009

Cisco do ipê amarelo

Outro espetáculo a que eu assistia, maravilhado, Serafina, era o dos ipês em flor. Havia dois brancos, na beira de um lago represado, mais dois ou três roxos, perto da casa grande, mas a maioria soltava, soltava, não, explodia suas flores, salpicando a fazenda de amarelo!
Quando isso acontecia, eu gostava de ir até um lugar bem alto, onde havia uma mangueira, e ficar sentado sob sua sombra olhando, só olhando... Daquele ponto a gente também conseguia ver o horizonte dando uma volta inteira, marcando o fim da terra e o começo do céu, em uma bola imensa, do tamanho do mundo que eu sonhava conhecer!
Às vezes, ficava ali até anoitecer, descansando e sonhando, na companhia das vacas e seus bezerrinhos, deitado no chão, olhando para o infinito. Só ia embora depois que apareciam as primeiras estrelas no céu.
Mas, por falar em bezerrinhos, sabe que cheguei a acompanhar o nascimento de muitos, Serafina? Uma vez meu pai teve que socorrer uma vaca que estava tendo dificuldades para parir. A pobrezinha sofreu, eu fiquei passando a mão na sua cabeça e rezando para que tudo corresse bem. Na hora, me lembrei de São Francisco, que gostava muito dos animais e até conversava com eles, segundo histórias de minha mãe. E como deu tudo certo, no fim, batizei o bezerrinho de Cisco Amarelo, em homenagem ao santo e à beleza dos ipês em flor, que pareciam ter emprestado um pouco de sua cor ao recém-nascido, que tinha manchas de um marrom amarelado em seu pelo claro...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A consagração da artilheira

_ E então, Serafina? Sou todo ouvidos...
_ Ah, seu Nonô, acho que não tenho nenhuma história que o senhor ainda não saiba. Eu sempre lhe conto tudo o que acontece comigo!
Lá do sítio dos meus avós, o Ribeirão Fundo, só tenho lindas lembranças. Parece que estou vendo o cafezal salpicadinho de vermelho, me dá até vontade de pintar um quadro, também vejo os bois atravessando o riacho, o milharal cheinho de espigas, sinal de que a gente ia comer muita pamonha e muito curau... O que mais?... Ah, também me lembro da inauguração de um campinho de futebol que o meu vô Quim preparou para os meninos da redondeza jogarem suas peladas. Depois de muito custo conseguiram formar dois times, juntando daqui e dali... Só que, na última hora, faltou alguém e um dos times ficou com dez jogadores. E eu, que a bem da verdade gosto mais de uma boa farra que de uma bola, como estava com uma bermuda velha e uma camiseta de ficar em casa, nem esperei ser convidada e já me coloquei a postos. E o senhor sabe da melhor? Até hoje não sei como, não me pergunte, mas consegui marcar um gol de bicicleta! Foi a maior consagração da minha vida, seu Nonô!
_ Sabe que esse caso me fez lembrar de uma outra menina que conheci, chamada Joana, a Joana Banana? Bem, mas isso não importa, agora. Eu queria sugerir um título para sua história, como você fez com as minhas. Que tal A consagração da artilheira ou O primeiro gol de placa da Serafina?
_ Acho melhor o primeiro, seu Nonô, mesmo porque nunca mais marquei gol nenhum, muito menos de placa!

Parabéns, professores!

Neste 15 de outubro eu não poderia deixar de registrar o meu forte abraço a todos os professores deste nosso Brasil tão imenso. Vocês são verdadeiros missionários, merecedores da nossa mais sincera admiração e do nosso mais profundo respeito.
Tomara que as pessoas que, nas mais altas esferas, conduzem o processo educativo do país olhem com mais carinho e atenção especialmente para os professores que atuam na formação das nossas crianças, única esperança de um futuro mais digno e promissor para as futuras gerações.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

As noivas e o perfume das laranjeiras

O perfume das flores de laranjeira me traz à lembrança os casamentos lá da roça. As noivas escolhiam justamente essa época do ano para marcar a data. E parece que até o vento cooperava e soprava mais forte nos dias de casamento para esparramar o perfume pela fazenda inteira!
Só que nem tudo eram alegrias, não... Sabe que houve até um caso em que a noiva foi raptada pelo antigo namorado, na porta da igreja? Ela estava se casando com outro sem amor, por imposição dos pais, e foi salva pelo gongo, um pouco antes de dizer o sim!
_ Que aventura, hein, seu Nonô?
_ Aventura também viveu outra noiva, coitada, que foi abandonada no altar, Serafina! Na hora do sim o noivo se arrependeu, deu meia-volta e saiu em disparada!
_ E ela?
_ Também saiu correndo, logo depois dele, montou o primeiro cavalo que apareceu na sua frente e fugiu galopando, de vestido de noiva, véu e grinalda!
_ Coitada, seu Nonô! Que vergonha ela deve ter passado! E depois?
_ Bem, quanto ao primeiro caso, os dois se casaram mesmo sem o consentimento dos pais da noiva, que já era maior de idade, e quando nasceu o primeiro netinho, o avô materno só faltou derreter de emoção...
Já a noiva abandonada ficou um tempo sem sair de casa, mas acabou se casando, mais tarde, com o irmão do noivo fujão, que veio a se tornar seu cunhado, você acredita? Bem, Serafina, já lhe falei sobre dois assuntos que marcaram a minha infância e adolescência. Agora é sua vez. Sou todo ouvidos!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dia de balanço e reflexão

"O ócio é o cenário da criação"... e a Natureza é o cenário do meu ócio.

Completar 60 anos e se sentir plena da vida que já viveu intensamente, até as últimas consequências, mais que presente é uma bênção.
Completar 60 anos e ainda sentir entusiasmo pelo que está por vir é uma graça bendita e infinita.
Como posso dizer que não sou uma pessoa privilegiada?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Paisagem de neve na roça de seu Nonô

Uma das paisagens mais bonitas que até hoje conservo na memória é a das roças de algodão, um pouco antes de ser colhido. Meu maior sonho era poder sobrevoar a fazenda de helicóptero, para ver lá de cima aquele pedaço imenso de chão forrado de branco!
Isso também acontecia quando a paineira, que ficava ao lado da nossa casa, começava a abrir seus frutos para soltar a paina. Era como se fossem flocos de algodão pendurados em seus galhos.
Quando ventava mais forte, os chumaços caíam e cobriam o chão de fiapos brancos.
Nessa mesma paineira havia uma casinha de joão-de-barro, muito especial, pois eu tinha acompanhado sua construção. Um verdadeiro arquiteto esse pássaro! Digo isso, porque quando a casa ficou pronta não resisti à tentação de subir na árvore para dar uma espiadinha. Ainda bem que ela estava vazia quando fiz isso. Tinha até uma paredinha para dividir os cômodos, Serafina! Um verdadeiro encanto da natureza!

Um dia muito especial


Hoje, 12 de outubro, é o aniversário do seu Nonô (na cadeira de balanço, junto com a Serafina, foto tirada na "Felippe", em Dois Irmãos, RS), dia da criança, dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida...
Hoje também se comemora, pela primeira vez, o Dia Nacional da Leitura!
E, como se já não bastasse, é a véspera do meu aniversário! Amanhã, 13 de outubro, completo 60 anos de idade e, na Bienal do Livro de São Paulo, em 2010, estarei comemorando 30 anos de literatura, 30 anos de trabalho com, para e pelas crianças!
Quero, pois mereço, um ano inteiro de festas! E vou começar agora, postando neste blog -- a "história" mais bonita e gostosa que inventei neste ano -- um texto inédito: algumas histórias que seu Nonô já contou à Serafina, histórias da época em que ele e sua família moravam em uma fazenda.
Faço isso pela criança e pela leitura; pelos meus leitores queridos, esparramados por este nosso imenso país, desejando ardentemente que chegue logo o dia em que cada um possa ter alguns livros em uma estante, um baú ou uma caixa de papelão, dentro de sua própria casa ou de sua casa própria, por que não?
Feliz 12 de outubro a todos!!! Parabéns, seu Nonô!