sábado, 17 de outubro de 2009

Cisco do ipê amarelo

Outro espetáculo a que eu assistia, maravilhado, Serafina, era o dos ipês em flor. Havia dois brancos, na beira de um lago represado, mais dois ou três roxos, perto da casa grande, mas a maioria soltava, soltava, não, explodia suas flores, salpicando a fazenda de amarelo!
Quando isso acontecia, eu gostava de ir até um lugar bem alto, onde havia uma mangueira, e ficar sentado sob sua sombra olhando, só olhando... Daquele ponto a gente também conseguia ver o horizonte dando uma volta inteira, marcando o fim da terra e o começo do céu, em uma bola imensa, do tamanho do mundo que eu sonhava conhecer!
Às vezes, ficava ali até anoitecer, descansando e sonhando, na companhia das vacas e seus bezerrinhos, deitado no chão, olhando para o infinito. Só ia embora depois que apareciam as primeiras estrelas no céu.
Mas, por falar em bezerrinhos, sabe que cheguei a acompanhar o nascimento de muitos, Serafina? Uma vez meu pai teve que socorrer uma vaca que estava tendo dificuldades para parir. A pobrezinha sofreu, eu fiquei passando a mão na sua cabeça e rezando para que tudo corresse bem. Na hora, me lembrei de São Francisco, que gostava muito dos animais e até conversava com eles, segundo histórias de minha mãe. E como deu tudo certo, no fim, batizei o bezerrinho de Cisco Amarelo, em homenagem ao santo e à beleza dos ipês em flor, que pareciam ter emprestado um pouco de sua cor ao recém-nascido, que tinha manchas de um marrom amarelado em seu pelo claro...

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