terça-feira, 20 de outubro de 2009

Os trilhos da saudade e dos sonhos

_ Saudades do perfume das flores de sua mãe, seu Nonô? Que bonito...
_ Ah, saudades de tudo, minha filha! Do barulho do trem, que passava perto... Que vontade de fazer uma viagem nele, meu Deus, que vontade de correr o mundo pelos trilhos do trem! Nem que para isso eu tivesse que trabalhar como maquinista! Quando ouvia aquele apito grave
-- fooooooooom! -- ... Está me ouvindo, Serafina? Bem, quando eu ouvia...

... Quando ouvia o apito do trem, chamava por Pégaso, meu cavalo que não precisava de asas para ser mágico, e íamos atrás dele, os dois, só pelo prazer de ultrapassá-lo rapidinho e acenar para quem estava dentro. Nosso passeio era por outros reinos, desconhecidos dos simples mortais, verdadeiros paraísos do planeta, onde só nós dois podíamos entrar. Eram cascatas e mais cascatas, aves raras, animais selvagens e plantas carnívoras, que não nos atacavam, nunca, flores exóticas, vitórias-régias que se abriam e fechavam quando a gente passava, em um solene cumprimento...
Mas sabe a única coisa que conseguia assustar meu cavalo e quebrar seu encanto, por algumas horas? Algum espantalho, acredite se quiser! Pégaso parava, relinchava, abaixava, para que eu pudesse descer, e começava a andar de ré, até sumir na imensidão!
Uma vez, ele deu de cara com um espantalho tão feio, mas tão feio, que saiu em disparada, sem me dar tempo de descer! Que tombo, meu Deus, que dor!...

_ Dor, Serafina? Mas o que foi que aconteceu?

(continua na próxima postagem)

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